sábado, 8 de agosto de 2009

Dia dos Pais - Oração de Filho

Pai, em meio às lágrimas posso sorrir. Na dor, alívio sentir. Na solidão, posso sentir Tua mão afagando meu coração. E, quando, naquela inesquecível manhã, a mais triste notícia da minha vida recebi, mais uma vez percebi como seria tenebrosa a vida sem Ti.

Pai, naquela manhã, tudo pareceu muito diferente pelo vazio dentro da gente. Naquela hora, por breve momento, fui descrente. Sim, recusava-me a dar crédito à fatídica notícia. Não acordei preparado para recebê-la, não era para isso que o telefone deveria tocar. No meu coração de filho, queria que ele nunca tocasse, nunca tocasse tão forte; queria que ele nem existisse para que essa dor não me transmitisse.

Pai, o dia foi igual a todos os dias, mas para mim tudo era diferente: o céu, os pássaros, os montes, as árvores, as casas, a estrada. A estrada nunca foi tão curta. Com todas as paradas e toda a lentidão, nunca cheguei tão rápido, embora o relógio teimasse em desmentir minha impressão.
Pai, não consigo descrever como as cenas da vida com meu pai passavam tão rápidas e nítidas na minha mente. Minha infância, adolescência, juventude...

Pai, creio que o Senhor me fez lembrar intensamente nos últimos dias, uma conversa com meu pai. Sentados num andaime, ele me disse, entre outras coisas: "... amanhã ou depois papai morre..." Hoje, sei que o tema da conversa não era a morte. Era apenas uma conversa de um pai com uma criança. Mas, na mente da criança ficou gravado: "... amanhã ou depois papai morre..." Contei angustiado, “amanhã e depois”, pensando que meu pai ia morrer.

Quando aqueles três dias terríveis passaram, fiquei aliviado e pensei: "Que bom! Meu pai não vai mais morrer". Por mais de vinte anos depois, eu não lembrava mais da obra, do andaime, muito menos daquela angústia que senti. Recentemente, lembrava e contava esta conversa. Contei-a um dia antes do dia 22 de julho, quando a conversa girava em torno de como as crianças interpretam algumas coisas.

Ah, Pai! Amanhã e depois passou... e tudo se resume a ontem. Mas Pai, te agradeço e reconheço que a criança do andaime não ia agüentar tanta dor. O Senhor, que no ventre da minha mãe me formou, que da morte desde então me livrou, me preparou, me guiou, me ensinou, me transformou. Com um pai, durante trinta anos me presenteou.
Obrigado meu Senhor!

Pai, te agradeço por ter tido pai. Um pai de verdade. Sim, isto ele foi. Parentes e amigos podem descrever suas virtudes e também suas falhas. Podem descrever seu carinho por ele, de muitas maneiras. Mas, para mim ele foi "muito pai". E, tu, Deus, és para mim Pai Eterno! Presente! Consolador! És meu refúgio nesta hora de dor. Sim, Deus, tu que me deste um referencial de amor paterno, és "muito Pai". E, com ternura minhas lágrimas secou.

Pai, hoje o menino pode descer, subir e tornar a descer do andaime. Pode construir sem medo de cair; edificar sem medo de errar; sorrir sem medo de chorar; viver sem medo de morrer. Pois, para ti, Deus, não existe "amanhã e depois..." És eterno, estarás sempre comigo. Me darás muitas bênçãos, como me deste meu pai.
Obrigado Senhor!

Rev. José Henrique Barbosa de Andrade
Julho, de 2004.

Esse texto foi escrito quando o Senhor me consolou na ocasião do falecimento do meu pai, Henrique de Andrade (22/07/2004).
Hoje, dedico esse texto a todos aqueles que já não têm pai, mas contam com o consolo do Grande Pai do Céu.

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